quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

IDENTIDADE

por Bia Carrias

Eu sou chão pisado,
terra seca do sertão!
Sou fruto envenenado,
cidade sem compaixão!
Sou caminho sem direção,
sou TransAmazônica...
Sou o mar atormentado.

[Fonte: Facebook]

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Tinta e mármore


por Jarbas Apóstolo

O ser que fez parte de tua virtude perdida
já não precede tua ubíqua matéria.
O ser que reside em ti
agora sou eu, em traços de mármore e tinta.

Tu não soubeste me ser esta noite.
Não esta noite, não hoje, não nunca.

O ser que tenho
é virtuose pura.

O ser que tenho
é carne talhada, não podes sê-lo!

[poema inédito]

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

FRASES - Frédéric Schiffter

"É perigoso alguém se deixar persuadir de que, pelo próprio fato de ser humano, não tem o direito de ser infeliz."

[no livro Sobre o blablablá e o mas-mas dos filósofos, Ed. José Olímpio]

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Partir



1.
Todos os dias penso em partir.
Mas sinto o lodo das pedras,
o deslizar dos peixes e
o calor molhado do ar
de minha terra / minha terra é vermelha /
segurando-me as raízes,
e sou obrigado a ficar.

2.
Todos os dias penso em partir.
Compro o bilhete,
dobro camisas,
separo a escova de dente.
Mas uma chamada interrompe a noite,
rasga o outono sobre mim,
afastando suas bordas:
diz que quer me ver.
Deixo-me iludir / fui lembrado /
e decido ficar. 

[inédito de Eleazar Carrias]

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Maçãs



Você me pede sempre
o impossível.
Você me pede muito pouco.

Que eu seja alegre
enquanto grito.
Meu grito é rouco.

“Me sirvam maçãs
de minha terra.”
Da vida não força as fronteiras.

Você me pede sempre
uma merreca.
E quer que eu seja feliz inteiro.

[inédito de Eleazar Carrias]

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Prece na avenida central


Esses jovens morenos
que lavam carros ao sol,
perdoai-lhes, Senhor.
Perdoai-lhes ao menos

o ficar de costas nuas,
o andar de pés descalços.
Sobretudo, perdoai
o suor nos ombros largos.

Perdoai a indecência
lançada à moça que passa.
Mas, ainda, perdoai:

que grosseira tatuagem.
(Sobretudo, perdoai
o suor nos ombros largos).

[inédito de Eleazar Carrias] 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Suzana Flag


O amigo que buscas não está mais
ao alcance de tua autocomiseração.

Querias um amigo leal como um escudo
Armaste uma varanda na cidade invisível
Compraste uma guitarra sem saber tocar
Te esforçaste tanto que já sabes dizer tua cerveja
[preferida.

Pensavas que ele suportaria mil tardes sob essa varanda,
secando garrafas sem pressa,
curtindo teus downloads de banda de garagem.

Não sabes que o amigo tem futuro e seu mundo é
[grande.
Todas as guitarras não valem um acorde.
Que podes tu contra armas e rosas?

O amigo que buscas não está mais
ao alcance de tua autocomiseração.

[do livro Quatro Gavetas]

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A saga



A felicidade não vale o sangramento
dos pés pelo caminho.

A alegria sim,
a alegria se basta.

A maior alegria é sentir
as dores insuportáveis do mundo.

É maravilhar-se, com pesar,
diante de uma mulher grávida.

Perdeste a beleza.
Perdeste a capacidade de senti-la.

Perdeste a humanidade:
perdoas a todos e de nada te arrependes.

Dize-me: querias esta sala?
Mostra-me o que sobrou do primeiro homem.

Mostra-me o fruto do teu sangue.
Chama a liberdade pelo nome.

Vês: a felicidade não vale
o sangramento dos pés pelo caminho. 

[inédito de Eleazar Carrias]

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Metafísicos_2




Eis aqui o mistério do mundo:
cabe neste copo:
não muito raso
nem tão profundo.


[inédito de Eleazar Carrias]

terça-feira, 28 de junho de 2011

Para Pietra




E todas as fotografias na praia,
todos os vídeos,
e telefonemas gravados
– sua voz pequenina e arenosa –
nada, filha, ainda que eu os

repetisse infinitamente,
nada garantiria que de meu amor
crescerias enferma.
Não se adoece de amor epistolar.
Menos ainda quando já somos felizes
e temos um lar. Outro pai, outro lar.
Quando me vires, crescida,
tu só me poderás dar
(que culpa terás?) 
outro olhar.

Todas as fotografias,
todos os vídeos
e telefonemas gravados:
nada garantiria que de meu amor
crescerias enferma.


[inédito de Eleazar Carrias]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

FRASES - Philip Yancey e o casamento

"Casei-me imaginando que o amor nos manteria unidos. Em vez disso, aprendi que precisava do casamento para ensinar-me o que significa o amor."

[do livro Rumores de outro mundo, Ed. Vida, 2004]

terça-feira, 3 de maio de 2011

QUATRO GAVETAS

por Roberto Carvalho de Faro

Poeta, mais gavetas tivesse
todas estariam destrancadas.
E todo produto dessa messe
comido por fomes não saciadas.

São como frutos madurecidos
que em tudo agradam o paladar
quer doces, acres ou parecidos
com o sabor das coisas do mar.

Poesia a mim se parece,
quando o corpo humano carece
de vitamina e mineral.

Traz da natureza o necessário
e inocula no corpo precário
tudo que precisa o mortal.

[soneto recebido por e-mail]

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Metafísicos_1


Quando eu vagava
alta madrugada
nas ruas de Berlim,
nenhuma metafísica
se eriçava
contra mim.

Toda dúvida se diluía
em meia garrafa de vodka.
Seguir a calçada de pedra
era a única lógica.

[inédito de Eleazar Carrias]

terça-feira, 19 de abril de 2011

FRASES - Philip Yancey e a criação artística

"Alguns minutos na internet permitem que eu pesquise qualquer obra de Shaskespeare, ou veja uma obra de arte exposta no museu do Louvre.
No entanto, será que obtivemos algum progresso na produção de conteúdo que as outras pessoas, algum dia, desejarão guardar e resgatar? Nossa arte se iguala à dos impressionistas? Nossa literatura se comprara à elisabetana? Nossa música tem maior qualidade que a de Bach ou Beethoven? Na maioria vezes, verifica-se ser mais fácil desmontar o que já existe do que criar o que ainda não existe. [...] Conhecer as partes não é, necessariamente, um auxílio à compreensão do todo."
[do livro Rumores de outro mundo, ed. Vida, 2004]

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Benedito e Alonso, muito obrigado - parte 1

Morando no interior do Pará, poucas vezes pude me encontrar com Benedito Nunes. Mas jamais esquecerei aquele seminário sobre Guimarães Rosa no CCFC e as duas vezes em que me recebeu em sua casa.
Numa dessas, passei quase uma tarde inteira ouvindo-o comentar meus poemas do livro Quatro Gavetas e, depois, falar de Heidegger com uma familiaridade incrível! Benedito não era apenas um homem de vasto conhecimento, era um homem de sabedoria.
Foram as opiniões dele e de Alonso Rocha (que disse adeus terça-feira passada) que me incentivaram a concorrer ao Prêmio Dalcídio Jurandir em 2008.
Benedito e Alonso dizem adeus, mas não nos deixarão jamais.

***

Compartilho um poema que fiz para nosso mestre, em 2007. Eu estava em Belém fazendo especialização. Uma bela manhã, dou de cara com aquele "passarinho" fazendo caminhada! Não era o intelectual, o filósofo, o crítico de literatura. Era o homem comum. Não pude reisistir. Corri, e o acompanhei, puxando conversa.
"O senhor faz caminhada com frequência?", perguntei.
"Sim", respondeu Benedito. Fez breve pausa, e continuou, como quem comunica algo muito importante: "Faz bem pro coração!" 
Este poema está no livro Quatro gavetas, prefaciado por Benedito.

 

ANOTAÇÕES PARA ESTUDO

É simples como uma pedra lançada ao mar.
É belo como a morte duma santa.
É sensível como um punhal cravado no ventre.
É verdadeiro como uma criança nascendo.
É puro como a tristeza do Cristo.
É terno como a voz duma velhinha no fim da tarde.
É renovador como encontrar José Viana da Costa de tênis num sábado.

***