Morando no interior do Pará, poucas vezes pude me encontrar com Benedito Nunes. Mas jamais esquecerei aquele seminário sobre Guimarães Rosa no CCFC e as duas vezes em que me recebeu em sua casa.
Numa dessas, passei quase uma tarde inteira ouvindo-o comentar meus poemas do livro Quatro Gavetas e, depois, falar de Heidegger com uma familiaridade incrível! Benedito não era apenas um homem de vasto conhecimento, era um homem de sabedoria.
Foram as opiniões dele e de Alonso Rocha (que disse adeus terça-feira passada) que me incentivaram a concorrer ao Prêmio Dalcídio Jurandir em 2008.
Benedito e Alonso dizem adeus, mas não nos deixarão jamais.
***
Compartilho um poema que fiz para nosso mestre, em 2007. Eu estava em Belém fazendo especialização. Uma bela manhã, dou de cara com aquele "passarinho" fazendo caminhada! Não era o intelectual, o filósofo, o crítico de literatura. Era o homem comum. Não pude reisistir. Corri, e o acompanhei, puxando conversa.
"O senhor faz caminhada com frequência?", perguntei.
"Sim", respondeu Benedito. Fez breve pausa, e continuou, como quem comunica algo muito importante: "Faz bem pro coração!"
Este poema está no livro Quatro gavetas, prefaciado por Benedito.
ANOTAÇÕES PARA ESTUDO
É simples como uma pedra lançada ao mar.
É belo como a morte duma santa.
É sensível como um punhal cravado no ventre.
É verdadeiro como uma criança nascendo.
É puro como a tristeza do Cristo.
É terno como a voz duma velhinha no fim da tarde.
É renovador como encontrar José Viana da Costa de tênis num sábado.
***