terça-feira, 17 de dezembro de 2013

ROMANCE



Na primeira vez que me amou,
cortou-me a orelha esquerda.
Jurava arrancar minha vaidade:
nunca mais usa brinco.

Na terceira vez,
ele me matou
com duas facadas nos rins.
Uma promessa que nunca levei a sério.

Quando acordei de minha morte
meu corpo ainda recendia seu sexo.

[inédito de Eleazar Venancio Carrias]

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quase a propósito de Ana Cristina Cesar e Fabrício Corsaletti


Ser publicado por uma grande editora é garantia de reconhecimento e prestígio? Pode ser. O que não significa que se publicou um livro importante.

Ganhar um prêmio literário importante significa ter escrito um texto saboroso? Não. (Em 2010, por exemplo, o poeta Fabrício Corsaletti levou o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura por “Esquimó”, um livro – no geral – ruim.) Mas pode indicar que, no mínimo, se escreveu algo que pode ser chamado de literatura. Uma literatura ruim, mas ainda assim, literatura. O que é grande coisa, numa época em que proliferam textos pseudoliterários, especialmente na poesia.

Se todos os meus versos fossem classificados como poesia ruim – acredito que a maioria o seja – eu me daria por feliz, pelo simples fato de ter-me mantido no âmbito do poético.

Publicar “alternativamente” ou por uma pequena editora pode condenar o autor ao esquecimento ou ao não-reconhecimento do valor de sua obra? Talvez. Mas se, no futuro, ele for descoberto por algum crítico ou editor ou acadêmico renomado, esse autor terá grande chance de vir a ser cultuado e mesmo de tornar-se popular. Hilda Hilst, durante quase toda a vida, esteve à margem do mercado editorial e hoje é publicada pela editora Globo.
Veja o caso de Ana Cristina Cesar. Como pode sua literatura ainda ser referida como “marginal”, depois de integrar-se ao mainstream editorial? Sua obra acaba de sair em volume único pela poderosa Companhia das Letras. Ela é, portanto, “ex-marginal”. Marginal é o escritor que, cinco anos depois de publicar, por seus próprios esforços, o primeiro livro, ainda guarda debaixo da cama metade dos volumes impressos, porque não tem como distribuir a obra.

Imagine que um mesmo livro fosse publicado, simultaneamente, por duas editoras diferentes, uma grande, outra modesta. Mesmo autor, mesmo conteúdo, mesmo formato e igual número de páginas. Ah – capas diferentes. Sim, porque a diferença entre as pequenas e grandes editoras começa aí. Ou você acha que a editora paraense LiteraCidade, por exemplo, dispõe da mesma equipe de profissionais que a paulistana Companhia?

Quem olha para uma capa bem feita (em termos conceituais e materiais) e – mais importante – com o selo de uma editora de alcance nacional, já pressupõe que “este livro deve ser bom, senão não seria publicado pela Companhia das Letras”. Afinal, tem tanta gente querendo ser publicada por uma editora como essa.

Ser marginal já era.

Eleazar Carrias