Você nunca pegou uma
dessas pedrinhas brancas e lisas que a gente encontra nos riachos e ficou
olhando pra ela com grande pesar. Não ficou olhando, olhando... até tudo em
derredor tornar-se silencioso e nada. Nem achou que essa pedra é tão bonita e
estava fazendo o quê num riacho. Não achou tão bonita e tão útil essa pedra a
ponto de pô-la com carinho entre a mão e o peito e levá-la pra casa e deixá-la
amiga e solidária na estante, ao lado de livros antigos bem lidos. Se um
cientista pegasse essa pedra, tiraria dela tanta coisa que daria um livro.
Faria o discurso da pedra, daria uma vida à pedra. Não é sempre que se tem
riacho. Muito mais não é sempre que se tem pedra branca e lisa colhida em
riacho. Você nunca amou uma pedra assim porque uma pedra num riacho não faz
diferença: do riacho o bom é a água. Eu também não importantizava as pedrinhas
riachais. Foi um escritor de nome que esqueço que me fez amá-las. Você nunca.
Eu as amei tanto que levei delas pra casa.
Perderam toda a
beleza.
[poema inédido de Eleazar Carrias]