por Alonso Rocha
Desço o barranco amarelo
os passos vagarosos prolongando a ânsia de dez
anos de espera.
Ainda está ali – velho e imóvel – o barco onde
eu brincava de marinheiro
desafiando os pássaros.
A mesma paisagem azul enchendo o fim da
Praia.
O mesmo vento abrindo velas.
Bóia na espuma o verde peixe morto
e as crianças riem das ondas destruindo castelos.
- Oh! Espelho de minha infância sem retorno!
Na pedra as águas não apagaram o nome da
Primeira Amada
- agora coberto de lodo,
mas as árvores recuaram até à beira da estrada,
e as gaivotas se multiplicaram.
Contemplativo, arranco a camisa branca
e corro feliz, os pés descalços tocando na areia molhada
e me entrego ao Mar!
[escrito na época da Academia dos Novos, Belém, anos 1940]