quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As ruas


As ruas que morrem à noite,
solitárias, meu Deus,
                      sem gemidos,
o que dizem elas
e a quem dizem?

As ruas não dormem, meninos,
                      as ruas velam.
E por que velam?
Pastoras resignadas,
assistem o sonho humano
não comunicado (e perdido)
                     dos seres
descobrindo-se uns nos outros,
perplexos e tardios.

As ruas velam silenciosas
por esses homens
                     mortos
nos passos apressados
                     da humanidade.


[do livro Quatro gavetas. Poema musicado por Márcio Portela]

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

É preciso estar bêbado



É preciso estar bêbado
pra ver beleza na vida,
é preciso estar bêbado
ou ouvir Bob Dylan.

Não me diga, professor,
que se cansou da ciência.
Não resvale, por favor,
no copo da inclemência.

Eis o copo da alegria:
põe paciência com tudo.
É preciso estar bêbado
ou contrafazer-se surdo.

Que Engels tivera Marx,
e Lewis a Tolkien – importa?
Que bonito, o copo cheio
e a solidão dessa porta.

É preciso estar bêbado
pra ver beleza na vida,
é preciso estar bêbado
ou ouvir Bob Dylan.

[inédito de Eleazar Carrias]